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#4 Assunto do Mês: Conheça a artista drag que denuncia as crises da Amazônia

O assunto do mês #3 tratou da construção de políticas públicas que respondam tanto à emergência climática quanto às necessidades das populações LGBTQIA+. Hoje, buscamos inspiração em uma artista atenta a todas essas crises, e que imagina um mundo que as supera: Uýra, ou Emerson Munduruku - manauara, bióloga educadora, de origem indígena, não-binária e de pronomes ela/dela.


A artista cria imagens de si mesma montada com fibras, folhas e tinturas coletadas da floresta amazônica para se transformar em uma “árvore que anda”. "Meu trabalho é questionar o que é natural [...] de fato, e o que tem sido naturalizado e que tem nos matado" disse em entrevista. Leva suas obras para espaços públicos, atuando como “ponte entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento popular”.


Suas imagens questionam o binômio humano-natureza: em uma, seu corpo deitado se camufla entre árvores amazônicas derrubadas, acentuando como o desmatamento fere simultaneamente a floresta e a humanidade. Em uma série de fotografias, se insere nos ciclos da Amazônia profunda. O título: “A mata (se/te) come”.

Aprendemos a exaltar a “domínação” da natureza que criou um mundo domesticado, ignorando o genocídio indígena que fez parte desse processo. Ou aceitamos que a natureza é um mundo distante e ignorável aonde podemos lançar lixo e fumaça para nunca mais voltarem. Uýra acentua como as vidas não-dominantes (indígenas, negras, LGBTQIA+, ou as vidas não-humanas da floresta) “estão, sempre estiveram presentes, mas não são vistas”, e são partes cruciais do mundo contemporâneo.


Questionar o que é natural também é importante para desafiar normas de gênero. A oposição entre “masculino” e “feminino” está por toda a parte, de forma supostamente natural. Mas as pessoas LGBTQIA+ sabem como esses papéis são violentamente impostos - afinal, o Brasil é o país que mais mata pessoas transgênero no mundo. Uýra se identifica com o termo indígena norte-americano “dois-espíritos”, que não a limita como homem ou mulher. A artista escreveu: “A diversidade de gênero e sexual é descrita para povos da América do Norte e existiu por todas essas bandas daqui, Brasil. ‘EXISTIU’ não, existe! - a exemplo do povo Boé Bororo (MT) [...] pela palavra de sua língua ‘Imedu-Aredu’ (homem/mulher). A colonização apagou estas palavras específicas para cada povo, e com elas as existências [...]. Por isso, demarco: homem ou mulher? Antes!”.


Três maneiras de conhecer mais do trabalho de Uýra:

  • Contos de Vida e Norte: nesse episódio de uma série da internet, vemos uma performance em que Uýra se veste de Boiúna, uma cobra da mitologia brasileira, e “encalha” em um igarapé poluído na cidade de Manaus. Relata com bom humor o estranhamento que causa (e as injúrias que recebe) por evidenciar sua singularidade. Ao fim, fala diretamente com o público que se acumula ao redor da criatura fantástica sobre a poluição urbana em Manaus;

  • Pelo Instagram da artista: Uýra posta muitas de suas performances e novas obras pela rede social. Recomendamos o curta em dois atos “Manaus: Cidade na Aldeia”;

  • Pelo novo longa-metragem: neste Junho, lançou nos cinemas “UÝRA: A Árvore que Anda”. Infelizmente, perdemos por pouco a oportunidade de anunciar esse filme enquanto passava na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre. Datas e locais de exibição (e esperamos que eventualmente um lançamento em streaming) estão sendo anunciados no Instagram oficial do documentário.


Esse texto faz parte da série Assunto do Mês, publicação mensal sobre um tema relacionado à sustentabilidade. Se você tiver alguma sugestão de assunto nos envie pelo contato@netimpactpoa.org ou pelas nossas redes sociais.


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